Bioética no Cinema

Na inusitada publicação, a bioética é esmiuçada em todos os gêneros, tanto em projetos de sucesso, como À Espera de um Milagre (1999), de Frank Darabont, que reflete sobre a pena de morte, como em fitas inexpressivas, a exemplo de Irmãos Gêmeos (1988), de Ivan Reitman. O maior mérito de Bioética no cinema é propor uma leitura mais amena de temas cruciais. Seguindo o catálogo dos autores, é possível absorvê-los em sessões de cinema regadas a “refri” e pipoca. É possível até estudar com tranquilidade temas sobre os quais não se entende sem queimar as pestanas.

Bioética com “refri” e pipoca
CÁSSIA CANDRA

Engenharia genética, pena de morte, eutanásia e aborto, entre outros temas palpitantes da bioética, vêm ganhando espaço no cinema. Filmes como BladeRunner – O Caçador de Andróides, do diretor Ridley Scott, e a série Matrix , idealizada por Andy Wachowski, que aludem a manipulação genética, e Arquivo X – O Filme, de Rob Bowman, que fala de transgenia, propõem a discussão de temas que ainda flanam sem consenso na sociedade do século XXI. Pois bem, a juíza federal Mônica Aguiar e o advogado Sérgio Nogueira Reis decidiram elencar esses filmes, associando-os aos temas mais polêmicos deste campo do conhecimento e escreveram Bioética no cinema (Nova Alvorada). Trata-se de um livro, no mínimo, curioso, capaz de interessar desde o mais descompromissado dos cinéfilos ao jurista mais compenetrado em arrojados projetos de carreira. “Não fizemos um livro voltado para a área jurídica. O caráter transdisciplinar da bioética permite que a publicação atenda à demanda de públicos distintos”, pontua Mônica Aguiar, destacando a intenção da dupla. O projeto nasceu em sala de aula, com o objetivo de atingir apenas os alunos do curso de direito da Ufba, uma das poucas, no País, que têm esta disciplina em sua grade curricular. “Vimos que temas como reprodução assistida, meio ambiente e pesquisa com seres humanos, entre outros, igualmente complexos, eram melhor assimilados pelos alunos quando exibíamos um filme e promovíamos um debate depois da sessão”, conta a autora, que ensina a disciplina nos cursos de graduação e pós-graduação da instituição. A linguagem do cinema foi escolhida pela professora e seu orientando como a ferramenta ideal para tratar de temas tão densos com o público leigo. “É um modo mais didático de nos colocarmos diante dos valores atuais da sociedade, que são debatidos nos jornais e revistas semanais”, argumenta Sérgio. Para o autor, que é diretor da Sociedade Brasileira de Bioética – Bahia, é fundamental que o grande público possa refletir sobre os temas propostos pela “ética da vida”. Ele acredita que o pensamento crítico os levará a tomar decisões importantes para a construção de uma sociedade mais justa.

FILMES – O livro está dividido em dez capítulos, cada um expondo um tema e arrolando fichas de filmes a ele relacionados, com informações básicas, como diretor, gênero, ano de lançamento e sinopse. Os autores catalogaram mais de 150 filmes. Quanto ao critério de escolha dos temas apresentados, segundo Mônica Aguiar, optou-se por selecionar aqueles com maior poder de mobilização popular. Alguns já tinham sido usados pelos autores com os alunos. “Destacamos os que mais os estimularam ao debate”, confirma a professora, que já sinaliza a disposição de escrever um segundo volume do trabalho, dando continuidade ao projeto. Na publicação inicial não poderiam faltar temas como a transsexualidade (assunto focado na fita de Ducan Tucker, Transamérica, de 2005, que conta o drama de um homem que descobre ser pai de um jovem às vésperas de fazer cirurgia para mudança de sexo), e transplante de órgãos, associado a filmes como Anatomia de um Assassino (1991), terror de Eric Red, e Dívida de Sangue, de Clint Eastwood, que enreda o espectador em uma trama envolvendo uma transplantada e sua doadora, vítima de um assassinato impune.

Outras discussões provocam o leitor ao longo das 167 páginas da publicação, como o aborto, que recentemente instalou uma das maiores polêmicas do ano, no País, ao ser noticiada a excomunhão, pelo arcebispo de Olinda e Recife, da equipe médica que provocou a interrupção da gravidez de uma menina de nove anos, estuprada pelo pai.

No livro, o tema é remetido a suas origens históricas, em eventos que remontam a 1850 anos antes de Cristo, e contextualizado com o que está previsto no projeto do novo Código Penal. Em relação a este tema, os autores selecionaram filmes como O Segredo do Padre Amaro(2002), do mexicano Carlos Carrera, com Gael Garcia Bernal encabeçando o elenco, e O Segredo de Vera Drake, (2004) de Mike Leigh, que volta à Inglaterra dos anos 50 para contar o caso de uma simpática senhora que foi julgada e condenada pela justiça inglesa por ter ajudado várias mulheres a abortarem.WIRE WORLD　Supernova 7　デジタル光ケーブル（タイプTos-Tos）　1.0m　STO7/1.0
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